quarta-feira, 23 de maio de 2012

**O Homem Ideal ** Por Lúcia Nóbrega

o Homem Ideal está muito longe da perfeição, Tem a rara habilidade de saber ouvir e só diz o que é necessário, bom ou a dura e intransponível realidade, Compreende a diferença entre estar presente e fazer companhia.
 Nem tenta impressionar. Não precisa entender de vinho, charutos ou golfe; precisa ser autêntico e admitir que não entende muitas coisas. Ele não exige a todo instante meu lado risonho porque sabe de tantas outras coisas não ditas em sentenças ou discursos, que os dias negros fazem parte de mim.
 Nota as sutis alterações de humor pelo tom da minha voz e, antes de prejulgar as razões, se predispõe a fazer cafuné ou, sensato, cala-se e fica do meu lado . E não exige explicações porque possui uma calma sabedoria que me impele em sua direcção: dividir minhas angústias e anseios com este homem é tão acolhedor quanto deitar e sentir que ele esta presente. O homem ideal me ralha quando abuso da minha independência ou como chocolate demais e depois reclamo do peso. Ele compra sorvete light e evita discussões posteriores. Compreende que preciso da sensação indescritivelmente libertadora de sumir por algumas horas , e mesmo não concordando com ela, não me interroga.
 O homem ideal canta. Não precisa ser afinado, mas sussurra (seja ao telefone ou ao vivo) canções que, num dia qualquer, mencionei gostar. Pode saber dançar. E, se não souber, que mantenha a dignidade e fique sentadinho e me observa. Também bebe. Meio armado, é daqueles que ficam charmosos de matar com um copo de uísque nas mãos. É deliciosamente bandido três doses acima do normal. Enterra os bons modos e fecha abruptamente a porta do quarto, sem tempo para que eu responda à pergunta nem sequer formulada.
Adormece do meu lado, mas não suporta ficar agarrado durante toda a noite.

E também gosta de cozinhar. Diverte-se tanto quando conto piadas(mesmo quando não tem graça)

O homem ideal está sempre disposto a me ouvir, mesmo que seja nos minutos desagendados à força durante o dia cheio, e não usa trabalho nem cansaço como desculpa para suas eventuais faltas; as assume, e até, se desculpa. Não se esquiva de discutir os problemas que não se solucionam com notas de 100. Não considera fraqueza dizer que me ama. Pede ajuda quando sente que o peso colocado sobre seus ombros extrapolou sua força. E chora. Não faz promessas porque sabe que nem sempre é possível cumpri-las. Vive regido por sua consciência e, impulsivo, assassina a etiqueta e comete actos passionais. Então faz besteiras, erra, engana-se. E nem por isso deixa de ser maravilhoso – apenas segue sendo magnífico e tropegamente humano.

O homem ideal é imperfeito, numa imperfeição que combina exactamente com a minha.

By: Lúcia Nóbrega

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